Monday, November 28, 2011

NACIONALIDADES


Quando estamos falando um idioma estrangeiro, é sempre desagradável nos considerarem desrespeituosos porque usamos (obviamente sem querer) uma palavra que imaginamos ter o mesmo significado e/ou conotação que no nosso - mas que, no fundo, deveria ser evitada. A palavra índio é um ótimo exemplo.
Em português, tanto índio como indígena tem uma conotação neutra/positiva. Se há uma diferença entre as duas palavras, eu diria que indígena soa um pouco mais elegante que índio, mas sem que esta tenha uma carga negativa. Ambas podem ser usadas indiscriminadamente no mesmo texto, inclusive para evitar repetições excessivas de uma delas. Por isto, recomenda-se aos brasileiros cuidado em outros países latinoamericanos, onde a palavra indio deve ser evitada em prol de indígena.
Uma dose semelhante de cautela deve-se ter com os naturais da Polônia, só que agora no sentido inverso: a palavra polaco, tão inofensiva em espanhol, tem em português (pelo menos no Brasil) um tom jocoso-informal-desrespeituoso que a condena ao desuso em favor de polonês.
Felizmente, são estas as únicas diferenças realmente delicadas. A maioria absoluta das nacionalidades tem a mesma forma em ambos idiomas, e as pouquíssimas diferenças que existem são tão surpreendentes a ponto de serem inesquecíveis. Não acreditam? Pois pasmem, leitores e leitoras, com o que virá.
As formas comuns se deram em parte via concessões morfológicas, com pelo menos um idioma (o português) absorvendo do outro um grande número de gentílicos terminados em –enho (um sufixo essencialmente espanhol). Notamos isto pelo resultado de dois fenômenos:
1. Estes gentílicos se referem sempre a países ou cidades de língua espanhola: hondurenho, limenho, madrilenho, panamenho, portenho, portorriquenho, saltenho;
2. Outras palavras do espanhol que terminam em ‑eño têm sufixos propriamente nativos no idioma vizinho: navideño vs. natalinoisleño vs. ilhéu; porteño vs. portuário (aqui, o português se enriqueceu em nuances ao ter palavras diferentes para os nativos de Buenos Aires e coisas que se refiram a portos em geral).
E, é claro, não podemos nos esquecer do exemplo máximo: brasileño vs. brasileiro e dos não menos significativos angoleño, mozambiqueño vs. angolano, moçambicano. O sufixo PT ‑eiro  ES ‑ero, diga-se de passagem, não é comum na formação de gentílicos em nenhuma das duas línguas. Ainda assim, as versões do espanhol da Argentina e do Uruguai (e talvez de outros países) mostram, elas também, uma certa “concessão morfológica” ao usarem a forma coloquial brasilero, importada do português e “inexistente” nos seus registros mais formais.
Em português, as nacionalidades que terminam em ‑enho são tantas que nem se sente a sua origem estrangeira. Na verdade, pode-se dizer que o português se empolgou de tal forma com este sufixo que o levou até as últimas consequências. Deixando-se conduzir por um raciocínio de lógica inegável, o idioma se valeu do exemplo da nacionalidade de Porto Rico para cunhar o gentílico costa-riquenho – isto, para enorme surpresa dos próprios cidadãos da Costa Rica, os quais se auto-denominam costarricenses. (Por outro lado, num contexto puramente brasileiro, optou-se por uma solução puramente nativa na hora de designar os naturais de Vila Rica, MT: eles não são nem “vilarriquenhos” nem “vilarricenses”, e sim vilariquenses.)
Interessante também a arbitrariedade dos dois idiomas quanto aos adjetivos referentes a Paris e Londres. Aqui, os sufixos ‑ino e ‑ense se empregam de forma diametralmente oposta:  PT  parisiense e londrino ; ES  parisino e londinense.
Terminamos com as principais diferenças nas nacionalidades em português e espanhol. Salta aos olhos a formação em ‑í em espanhol, inexistente em português. Há também uma maior distinção em português entre o nome de um país e o seu gentílico, já que, em espanhol, “NORUEGA” e “CHINA” podem designar tanto os países em si quanto uma mulher deles oriunda. Porém, esta distinção formal não se aplica em português com consistência: cf. “SUÍÇA” e “SÍRIA”.

PORTUGUÊS
ESPANHOL
angolano
chinês
angoleño
chino
dinamarquês
danés
iraniano
iraní
iraquiano
iraquí
israelense, israelita
israelí
marroquino
marroquí
moçambicano
mozambiqueño
norueguês
noruego
paquistanês
polonês
pakistaní
polaco
tunisiano
tunecino
venezuelano
venezolano


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